Cap.2
É uma boa caminhada até a capela e tanto o padre quanto o xerife sabem que será melhor chegar lá antes que o sol apareça de vez.
As ruas estão desertas, num silêncio de quem prende a respiração.
O barbeiro Alonzo abre a porta de seu estabelecimento para mais um dia, esperando clientes que raramente aparecem. Ele põe a cabeça porta afora e vê, com o canto do olho, o padre e o xerife vindo e arrastando algo.
Alonzo pisca e, quando abre os olhos novamente, já está de volta dentro da barbearia com a porta, janela e cortina fechadas.
Os homens seguem seu caminho saindo da rua principal e rumando até a colina onde se encontra a capela.
Eles se afastam e a cidade volta a respirar. Portas se abrem, pessoas começam seu dia.
Alonzo volta a abrir seu estabelecimento e vê o prefeito McQueen.
— Mais um? – pergunta o prefeito.
— Parece que sim – responde o barbeiro.
Prefeito: — O que ele aprontou?
Alonzo: — Precisa de algum motivo? Mas o senhor pode perguntar ao xerife depois, afinal é o prefeito.
Prefeito: — Rapaz, eu sou prefeito. Cuido da cidade. Assuntos da Lei de Deus e da lei dos homens não me dizem respeito. Vamos confiar no julgamento do nosso xerife e de nosso bom padre.
Alonzo: — E há outra opção?
— Não se você for esperto. Tenha um bom dia — conclui o prefeito com uma rápida piscada de canto de olho.
Do outro lado da rua, Ramirez chega para abrir seu saloon. Vendo a agitação do prefeito, pergunta: — Perdi alguma coisa?
Alonzo: — O padre e o xerife levaram um forasteiro para a capela.
Ramirez fazendo o sinal da cruz em meio a um sorriso cínico: — Que Deus o tenha.
Alonzo: — Já está abrindo o saloon?
Ramirez: — Sì, querem uma dose?
Prefeito: — Não são nem oito horas ainda.
Alonzo concorda: — É verdade. Ou seja, dá tempo para um trago antes do primeiro cliente.
Prefeito: — Eu sou seu primeiro cliente.
Alonzo: — Sì, e o senhor não vai querer que eu faça sua barba com as mãos tremendo por ainda não ter bebido hoje, não é?
O prefeito McQueen desiste de argumentar e fica observando o padre e o xerife sumirem morro acima com o infeliz desacordado enquanto aguarda o retorno do barbeiro.